terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Experiência Estética que Move o Sonho é a Mesma que Move a Vida Real

 Por Celso

A arte com mil direções possíveis, não tem começo nem fim. Eis porque ela se torna lugar de errância, espaço no qual o artista caminha do efêmero ao sublime e onde ele pode cultivar devires conjugando-os e assumindo-os perfeitamente.

Nada mais sublime que partilhar com um artista o movimento de captura de uma imagem, de uma palavra, de uma paisagem, de um objeto qualquer saído do mundo exterior ou do seu universo individual; ou ainda, quando o artista passa por uma experiência de êxtase e de si sai uma obra que fica imortalizada na história.

Ver o corpo da obra e na obra, as contrações do rosto talhadas na madeira, na pintura, para além do gênero, da raça, da cor, a alegria estampada atestando uma jubilação sem alarde, é como assistir às núpcias entre os elementos e o corpo dançarino da bailarina, em um balé de fogo, pássaro prateado, ser humano alado, onde o limitado torna-se a própria falta de limite, onde o humano confunde-se com o divino, assim é o artista.

Algo é precioso para ele: saber capturar uma imagem e representá-la. Montar a imagem como se monta um castelo. Na obra o estilo é soberano e particular. O estilo é a linha-artista do poeta autor que inscreve seu poema em uma imagem, seu charme, seu feitiço, que não exclui o experimento radical, quando o encontro com a obra futura é entregue às turbulências do seu ofício, ao mesmo tempo em que ondas de cores e de contrastes se juntam numa só harmonia, como uma canção. O artista é um mestre nas forças positivas da invenção. O charme da sua obra o leva a se confundir com a sua própria criação.

Uma obra é uma cartografia do belo, do movimento, de tudo aquilo que ultrapassa o nosso entendimento e o nosso modo de compreensão, a obra invade-nos e ultrapassa-nos, sua condição limite é o ilimitado. A arte é como uma carta de amor ou um ritual público de amor ao belo, ao sublime, mesmo quando não há platéia.

Ser artista é dançar ao vento, é perceber em cada acontecimento banal algo de grandioso, é se deixar imergir pelo gozo da criação é viver numa solidão habitada pelas imagens.

Criar é ter o sentido do equilíbrio/desequilíbrio de tudo que está a sua volta, é transpor para o mundo exterior o que só ao artista pertence em sua intimidade, em sua individualidade. O mundo do artista é um mundo cheio de becos escuros e labirintos onde o único risco é o de se confundir com a sua criação.

Para além do mercantilismo de alguns e dos efeitos perversos de uma massificação, classificação e qualificação da obra, o artista, fábrica de sonhos, é sobremaneira um indivíduo fabuloso. Entre o homem e a obra, uma produção, uma criação do inútil, perfeita definição da arte. O artista, deus que brinca com os deuses da beleza, é alguém que diz um vigoroso sim à vida.

O mundo é o livro do artista onde em cada acontecimento ele lê um capítulo, seus instrumentos de trabalho inscrevem esses acontecimentos e a sua obra se torna um poema.

Louco, Celestino, Tamba...

Um comentário:

  1. O artista a todo momento está em total desequilibrio no instante das suas criações.
    ... CAVA AQUI, CAVA ACULÁ...", buscando sempre uma forma, dando um ritmo a sua obra, ou melhor a sua criação.

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