segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Primitivismo Moderno

Texto adaptado por Carlos Gama



Primitivismo , sob um ponto de vista antropológico, a grosso modo, poderia ser definido como a crença na superioridade do estilo de vida simples das sociedades pré-industriais, ou o próprio estilo de vida destas culturas, normalmente as africanas, pré-colombianas ou da Oceania. No entanto, o uso desta palavra surge apenas no século XX, pertencendo ao âmbito das artes de vanguarda e sua crítica.
No século XX, o termo primitivismo surge para definir certas tendências ou características dentro da arte de vanguarda ou das literaturas modernistas de várias nacionalidades, bem como para definir um tipo de arte não acadêmica, feita por artistas autodidatas, com pouco ou nenhum conhecimento técnico ou teórico, que se caracteriza por uma certa simplificação formal, no uso da perspectiva, por exemplo, de temática normalmente popular. A  exemplo do artista consagrado que nas artes plásticas passou a trabalhar e a ter afinidade com  esta última concepção de primitivismo, o estilo naif, também conhecido como arte popular,  Louco BSF.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A INSTAURAÇÃO DA ARTE E OS MODOS DO DISCURSO



A hierarquia dos objetos
 Texto extraído do livro : O que é Arte, de Jorge Coli

Obra de Louco

A arte instala-se em nosso mundo por meio do aparato cultural que envolve os objetos: o dicurso, o local, as atitudes de admiração, etc.
Veremos mais adiante como esses instrumentos e a própria noção de arte são específicos de nossa cultura. Por ora, limitemo-nos a constatar que eles permitem a manifestação do objeto artístico ou, mais ainda, dão ao objeto o estatuto de arte: a galeria permite que o pintor exponha seus quadros (isto é, que "manifeste" sua arte) e, além disso, determina,escolhendo um tipo de objeto dentre os inúmeros que nos rodeiam, que ele seja "artístico".
Mas esses instrumentos não se limitam a traçar uma linha divisória separando os objetos artísticos e os não artísticos; não se contentam emcriar uma "reserva" de arte. Eles intervêm, por assim dizer, na disposição relativa dos objetos artísticos; pretendem ensinar-nos que tal obra tem mais interesse que outra, que tal livro ou filme é melhor que outro, que tal sinfonia é mais admirável que outra: isto é, criam uma hierarquia dos
objetos artísticos. Não é preciso muito conhecimento para sabermos que Dante é"maior"ou "superior" a Casimiro de Abreu, que Benedito Calixto é "inferior" a Leonardo, que Bach é o maior de todos osmúsicos, que o Partenon é a mais perfeita obra arquitetural, pois trata-sede julgamentos correntes, que parecem óbvios ou tácitos.Isto não quer dizer que tais objetos sejam mais "arte" que outros.Certo crítico poderá afirmar que Benedito Calixto não produziu obras de arte, mas estará empregando apenas uma hipérbole. Sabemos que Calixtofoi pintor, que produziu quadros e painéis, que exerceu uma atividade artística. Portanto, quando o crítico nega o caráter artístico de sua produção, está dizendo que, segundo seus critérios de julgamento, a qualidade da obra de Calixto não atinge um nível suficientemente elevado para que possa considerá-la como uma obra de arte. Mas,tomando duas obras tidas como artísticas, o crítico pode afirmar que,segundo certos critérios (que podem ser explícitos ou não), tal obra émais bem realizada, ou mais rica, ou mais profunda que outra.A crítica, portanto, tem o poder não só de atribuir o estatuto de artea um objeto, mas de o classificar numa ordem de excelências, segundo critérios próprios. Existe mesmo uma noção em nossa cultura, que
designa a posição máxima de uma obra de arte nessa ordem: o conceitode obra-prima.Esta noção é antiga, e ela não possuía exatamente o sentido que assumiu com o tempo. Os dicionários nos dirão que obra-prima é a obra perfeita, a obra capital, a produção mais alta de um autor. Se consideramos que Os Lusíadas são uma obra perfeita, que a Ilíada é uma obra capital, que o Ateneu é a melhor obra de Pompéia, diremos que nos três casos estamos diante de obras-primas da literatura. Porrazões ligeiramente diferentes: Os Lusíadas podem não ser essenciais, por exemplo, para a cultura de um americano, na Ilíada talvez encontremos irregularidades de construção, dizemos que O Ateneu é a obra-prima de um autor, Pompéia; mas nos três casos estamos diante de obras de qualidade que julgamos excepcional em relação a outras.No passado, entretanto, a obra-prima era aquela que coroava oaprendizado de um ofício, que testemunhava a competência de seu autor.Não se tratava de uma realização forçosamente inovadora, original, e era com frequência um produto utilitário, saído das mãos de um carpinteiro,ourives, tecelão. Os ofícios, exercidos em ateliês (isto acontece aproximadamente a partir do século XIV), constituíam um sistema não apenas de produção e de distribuição de objetos, mas também de ensino. O ateliê tinha um mestre, dono o mais das vezes da matéria-prima e dos instrumentos de fabricação, que ensinava aos aprendizes. Estes começavam crianças e adquiriam todas as técnicas necessárias ao ofício.Os ateliês agrupavam-se em corporações que os protegiam e estabeleciam regras precisas: por exemplo, que o proprietário de um ateliê fosse obrigatoriamente um mestre. E, para que o aprendiz setornasse mestre, devia apresentar em concurso, a outros mestres da corporação, uma obra inteiramente de sua autoria, que pudesse ser considerada perfeita, demonstrando assim um domínio de todas as técnicas necessárias: era a obra prima. Dessa origem, que se liga a condições de produção específicas, a expressão se generaliza no sentido de denominar a melhor obra, o produto mais perfeito no campo das artes. São muitas as diferenças, que não podemos abordar agora, entre o emprego originário e o atual. Ressaltemos uma, que nos interessa: a obra prima, no passado, era julgada a partir de critérios precisos de fabricação, por artesãos que dominavam perfeitamente as técnicas necessárias. Hoje, os profissionais do discurso sobre a arte possuem critérios mais diversos e menos precisos em seus julgamentos, critérios que não são apenas o do saber fazer.

Os caminhos do discurso

Se um carpinteiro aprecia a qualidade de um móvel, ele o faz a partir de um saber concreto, digamos, quase indiscutível. Verificará a qualidade da madeira empregada, a sua adequação à forma que se exige dela,verá se os elementos que constituem os pés, os braços, o encosto de uma cadeira foram bem talhados e ajustados. Admirará uma proeza
qualquer de feitura — por exemplo, a solidez da cadeira repousando sobre pernas delgadas —, a fineza do entalhe e a delicadeza dos ornamentos. No fazer que ele conhece, encontra os critérios para julgar o fazer de outrem.O crítico, entretanto, não tem recurso à objetividade do puro domínio técnico. Sabemos que a pintura de Leonardo, de Watteau ou Prud'hon são "mal feitas", que o material e as técnicas empregadas, por desleixo ou vontade experimental, não são adequados, que certos pigmentos não poderiam ter entrado em contacto entre si, que a execução foi apressada e não esperou a camada inferior secar para dispor, sobre ela, a camada seguinte, que se
abusou do betume nas sombras. E, finalmente, que o produto uma vez acabado envelheceu mal, escurecendo ou transformando as tonalidades originais, destruindo o desenho primitivo. Mas não são esses os fatores que interessam ao juízo do crítico. A Santa Ceia, quase em ruína, o São João Batista invadido pelas sombras não fazem de Leonardo um mau pintor. O bom conhecimento da perspectiva, da anatomia, da aplicação de luz e sombra são técnicas de um mesmo nível que o manuseio das tintas, pois são aprendidas segundo regras e podem ser julgadas com um forte grau de objetividade. Mas elas são um meio entre outros para a construção de um quadro e não são, nem podem ser, uma exigência absoluta. Ninguém pensaria em condenar Ingres pelo seu desdém pela anatomia, nem Uccello por sua perspectiva pouco ortodoxa, nem
Botticelli pela ausência de modelado em suas obras. Podemos dizer que certo pintor conhece perfeitamente a anatomia, mas com isso estamos elogiando apenas um aspecto técnico parcial de sua obra. Os discursos que determinam o estatuto da arte e o valor de umobjeto artístico são de outra natureza, mais complexa, mais arbitrária que o julgamento puramente técnico. São tantos os fatores em jogo e tão diversos, que cada discurso pode tomar seu caminho. Questão de afinidade entre a cultura do crítico e a do artista, de coincidências (ou não) com os problemas tratados, de conhecimento mais ou menos profundo da questão e mil outros elementos que podem entrar em cena para determinar tal ou qual preferência. Dirá um que Wagner é compositor desmedido ou de prolixidade vazia, outro invocará seu gênio harmônico a serviço de uma dramaticidade filosófica, etc. A situação é algo embaraçosa: vimos os fatores exteriores instaurando a arte em nossa cultura, vimos que eles determinam a hierarquia dos objetos artísticos, e nos deparamos com divergências de critérios que nos deixam confusos. Poderíamos tentar uma saída para o impasse buscando uma solução estatística: se não há unanimidade, talvez haja maioria. E, com efeito, pelo menos em certos casos mais notáveis, essa maioria parece manifestar-se com alguma solidez: é raro encontrarmos textos que desqualifiquem Cézanne, por exemplo,Eisenstein, Shakespeare ou Mozart. Eles existem, sem dúvida, mas um consenso geral valoriza extremamente a obra desses artistas.Temos que nos desenganar, no entanto. Não somente porque, quando se trata de obras mais polêmicas, que não conquistaram a institucionalidade do consenso, as disputas mantêm-se acerbas (qual é o interesse de Gounod ou Massenet? Grande, dizem os anglo-saxões; nenhum, respondem os franceses; Le Brun pode ser um artista admirável ou apenas gerar tédio; Blake um doido ou um iluminado genial), mas
também porque esse consenso não é estável, ele evoluí na história. Sem dúvida, Cézanne é tido hoje em dia como um dos maiores nomes da pintura de todos os tempos. Porém, não podemos esquecer que o reconhecimento do seu valor foi tardio: enquanto viveu, o consenso geral recusou-se a julgá-lo positivamente, e esse também foi o caso de Van Gogh, de Gauguin e dos impressionistas — pintores de uma época em que havia justamente um conflito entre os critérios estabelecidos e a obra que eles produziam. Poderíamos pensar que somos hoje mais aptos a perceber o valor deles, que nossa sensibilidade é mais aberta a Van Gogh e a Cézanne que a do público de seu tempo, e teríamos razão. Seria entretanto abusivo acreditar que o nosso juízo de hoje determina o reconhecimento definitivo de Cézanne e Van Gogh. A crítica, amanhã, poderá nos mostrar que estávamos enganados, e que o interesse dessa pintura, afinal de contas, não era assim tão grande. Absurdo? Rafael e Fídias são dois pilares da história da arte.Inúmeras gerações de artistas se referiram a eles como mestres. Não obstante, no começo de nosso século foram assimilados a uma arte convencional, a modelos de escola, a patronos do "academicismo" e viram sua estabilidade de grandes gênios abalada; ao "convencionalismo" que representavam preferiu-se uma arte mais conforme ao espírito de inovação do tempo, um "primitivismo" mais espontâneo: exalta-se, por exemplo, Uccello e a escultura arcaica. Foi preciso esperar algum tempo para que, novamente, eles se reerguessem como faróis, embora certamente menos incontestados do que antes. Os casos de Guido Reni e do Corrégio são mais radicais. Foram pintores de celebridade imensa, indiscutível, de influência decisiva durante séculos, tão admirados quanto Michelangelo, Rafael, Leonardo, e não se pode dizer deles que tenham conhecido apenas fama passageira. No entanto, hoje sofrem um eclipse brutal. Nossa época parece interessar-se tão pouco pela ternura do sublime mestre de Parma ou pelo rigor de Guido, que quantos somos capazes de lembrar sequer um de seus quadros? Melhor, a quantos esses nomes dizem alguma coisa? Poderíamos multiplicar os exemplos: sabemos que o passado que foi tão severo com os impressionistas mostrou-se profundamente generoso com pintores como Meissonier, Gervex, Puvis de Chavannes, Chaplin ou Alma Tademma. A morte de Meissonier, por exemplo, causou luto nacional na França. Com o tempo, no entanto, a avaliação crítica inverteu-se e esses pintores, que se opunham aos impressionistas como técnica e assunto, deixaram de ser exaltados. A condenação da posteridade chegou a tal ponto que se tornou difícil ver um quadro deles em museus. Estes, quando possuíam algum, escondiam-no envergonhados nas reservas. Durante muito tempo, essa pintura foi considerada como o próprio exemplo da não arte, como alguma coisa. Artisticamente irrecuperável. Ora, há questão de dez ou quinze anos, começou a sua reabilitação triunfal. Hoje descobrimos nela uma técnica admirável, um imaginário surpreendentemente rico, por vezes um erotismo extravagante e desmedido. E inversamente, começam a despontar análises restritivas a Renoir, a Monet. Em certos casos, são setores inteiros da arte que passam por purgatórios do mesmo gênero. As catedrais góticas que tanto admiramos hoje, a escultura, os vitrais e a pintura da Idade Média, foram execradas pelos homens da Renascença e dos séculos seguintes, até que os românticos e alguns teóricos do século passado, como Viollet-le-Duc, interessaram-se por eles e demonstraram seu valor. O barroco, o maneirismo, o art nouveau, o neoclassicismo, entre outros grandes movimentos da história da arte, conheceram trajetórias de forte oscilação entre o interesse e o desprezo. São tantas as flutuações no tempo dos vários juízos sobre as artes, tantos os meandros traçados pelo que os italianos chamam de fortuna critica, isto é, pelos julgamentos da posteridade, que não sabemos mais a que nos ater. Por vezes, uma obra, um autor, parecem inabaláveis, como Homero, e eis que um grande nome da cultura, como Valéry ou Gide, traduzindo uma corrente de opinião, surge para afirmar que a Ilíada é insuportavelmente insuportavelmente entediante. Com estes exemplos, colhidos um pouco ao acaso, já podemos chegar a uma constatação deprimente: a autoridade institucional do discurso competente é forte, mas inconstante e contraditória, e não nos permite segurança no interior do universo das artes.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CIÊNCIA NÃO É ARTE

 Por Jefferson Willes*


"Nuvens não são esferas, montanhas não são cones, continentes não são círculos." Benoit Mandelbrot

Embora exista um interesse bastante íngreme na interface entre essas duas atividades humanas (Ciência x Arte), há um grande equívoco em atribuir ciência a um valor artístico. Segundo Fayga (autora citada pelo próprio especialista em arte Carlos Gama), a representação da natureza não pode ser considerada arte, pois carece de experiência humana, de sentimentos, de expressividade – para usar a linguagem artística. E é justamente nessa expressividade que está o verdadeiro valor de uma obra de arte.
Podemos usar como exemplo a Teoria dos Fractais ( assim como a Teoria do Caos são ramificações da área dos Sistemas Complexos). Para Mandelbrot (The Fractal Geometry of Nature 1982), um fractal é um conjunto espacial que manifesta uma relação escalar, entre o número de seus elementos constituintes e a sua classe de mensuração: tamanho, densidade e intensidade. As principais propriedades que caracterizam os fractais são a auto-semelhança, sua dimensão fracionada e a complexidade infinita. Essas formas podem ser verificadas na natureza como na forma de árvores, nas estruturas pulmonares, flocos de neve e outros. Todavia essas belíssimas formas não são consideradas obras de arte, como afirma Fayga:
Ainda que suas formas nos proporcionem um grande prazer estético, tais formas se apresentam em termos neutros, sem conteúdos afetivos. Pois vejamos: seria possível caracterizar as imagens de fractais como sendo alegres, melancólicas, tristes, irônicas, líricas, dramáticas, trágicas? Penso que qualquer um desses atributos estaria fora de propósito. As formas simplesmente não encerram este tipo de significado. Elas carecem de expressividade. (Ostrower, 1999, p. 197).
Fractais são formas completamente desconexas de conteúdo expressivo. Enquanto, na arte, segundo Fayga, as formas devem ser impregnadas de sensualidade, na geometria as formas prescindem de qualquer aspecto sensual ou afetivo. Portanto, embora muitos artistas utilizem formas geometrizadas em suas composições, estas só podem ser consideradas obras de arte se estiverem imbuídas de carga emocional, de experiência humana. 
*Licenciado em Física pela UEFS;
Mestrando em Sistemas Complexos SENAI – CIMATEC. 

sábado, 6 de novembro de 2010

Art naif

Por Carlos Gama








A arte naif, ou mais conhecida como primitivo moderno, no geral, é a arte produzida por artistas desprovida de conhecimentos acadêmicos na execução de suas obras, isso não implica na qualidade das suas obras no que diz respeito ao critério de valor de superioridade ou inferioridade. O termo art naif significa arte ingênua, uma arte criada a partir do espontâneo, da criatividade única do artista do seu fazer artístico sem nenhuma formação acadêmica e nem orientação. Em outras palavras é um estilo onde o artista expande seu universo criador particular. O artista naif não tem a preocupação em manter as proporções naturais e nem os dados de uma anatomia correta das suas obras que criam ou representam. Mesmo dessa forma, é valido pontuar que intuitivamente o artista consegue criar, se assim preferir, desprovido de regras proporcionais. Oscar D´Ambrosio (2007, p. 19-23) em seu artigo intitulado, Os doze princípios do artista naif, caracteriza esse estilo de arte em doze aspectos:

1- O artista precisa ter preocupação estética, não mágica ou religiosa;
2- Seguir o gosto individual, não o da coletividade;
3- Obedecer a amplitude do seu mundo interior, não apenas a emoção;
4- Ser um artista profissional, não em diletante (exerce uma arte por gosto como amador);
5- Praticar intensamente e seriamente, não se acomodando;
6- Ter um estilo próprio e não um imitador;
7- Ter um espírito visionário, não conformista;
8- Ter traços de arte instintiva, não repetir o que já existe;
9- Ser autodidata, não seguir academia;
10- Busca produções bem elaboradas, não estagnar;
11- Manter o espírito não domesticado, não abrir mão da liberdade de   criação;
12 - Ser fiel ao individualismo, não aos modismos.
(D’AMBROSIO, 2007, p. 19-23)[1]



[1] D’AMBROSIO, Op. cit..

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Por uma reflexão sobre o nascimento da filosofia da arte

Qual é o sentido da filosofia da arte? Poetas, escritores e pensadores tentaram dar cabo a essa questão que, para o bem dos estetas, permanece sem resposta.


Ao abrirmos um manual de filosofia, muitas vezes, nos deparamos com o termo filosofia da arte e nem sempre sabemos exatamente a que se refere essa linha de pensamento que, de uma forma ou de outra, pertence à filosofia. Então, pergunta-se: o que significa, afinal, filosofia da arte? Como ela surgiu? E, mais importante, como é possível pensar a arte filosoficamente?

O termo "filosofia da arte" é muitas vezes confundido como termo "estética". Muito embora alguns autores insistam em separar uma coisa da outra, no fim, um termo e outro não deixam de designar uma e mesma coisa: a relação do pensamento filosófico com a criação artística. Se formos investigar na história da filosofia como surgem ambos os termos, veremos que o termo "estética", por exemplo, foi criado por Alexander Baumgarten (1714-1762) apenas no século XVII, seguindo as exigências iluministas daquele século de definir e delimitar todas as áreas do saber humano. Pela primeira vez na história da filosofia, o pensamento filosófico sobre a arte adquire, se não um terreno sólido, ao menos uma denominação mais específica em meio às demais disciplinas que desde sempre fizeram parte dos principais troncos da filosofia: a ontologia, a moral e a política. Segundo Baumgarten, se essa experiência provocada pela obra de arte e pela criação artística em geral deveria conquistar para si um lugar ao sol em meio às demais disciplinas filosóficas, esse lugar deveria ser aquele da sensação.

De fato, como a obra de arte exige sempre um contato mínimo com um dos sentidos (por exemplo, a música com o ouvido, a pintura com a visão), o ramo da filosofia dedicado a essa experiência deveria invariavelmente chamar-se estética, na esteira do termo grego aesthésis, que designa a sensação sensível. Em completa oposição à lógica, conhecida como a ciência das regras do pensamento, a estética, ao contrário, deveria ser aquela linha de pensamento dentro da filosofia cujo objetivo era determinar as regras, não do pensamento, mas da sensação sensível, a partir das quais se poderia definir uma experiência estética. E muito embora seja possível dizer que desde sempre os filósofos se ocuparam com o problema da criação artística - por exemplo, Platão no livro X da "República" e Aristóteles na sua "Arte Poética" - apenas no século XVII com Baumgarten essa preocupação passou a ser sistematizada, vindo a receber essa nomeação.



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Arte e pensamento


Texto extraído do site :http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Arnheim

Como um dos principais estudiosos da Gestalt na Arte, Arnheim afirma que "toda percepção é também pensamento, todo processo de raciocínio é também intuitivo, toda observação é também invenção" (Arnheim, 1974:5). Contradiz a idéia dominante que entende que as palavras e não as imagens são os primeiros ingredientes do pensamento e que a linguagem precede a percepção.
Arnheim afirma que "o mecanismo pelo qual os sentidos entendem o meio-ambiente são idênticas às operações descritas pela psicologia do raciocínio" (Rudolf Arnheim, Visual Thinking, 1969:v). Como as descobertas científicas, as expressões artísticas são uma forma de conhecimento na qual a percepção e o pensamento são indivisivelmente entrelaçados. Uma pessoa que pinta, escreve, compõe, dança, deve-se dizer, pensa com seus sentidos (Rudolf Arnheim, Visual Thinking, 1969:v).

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Experiência Estética que Move o Sonho é a Mesma que Move a Vida Real

 Por Celso

A arte com mil direções possíveis, não tem começo nem fim. Eis porque ela se torna lugar de errância, espaço no qual o artista caminha do efêmero ao sublime e onde ele pode cultivar devires conjugando-os e assumindo-os perfeitamente.

Nada mais sublime que partilhar com um artista o movimento de captura de uma imagem, de uma palavra, de uma paisagem, de um objeto qualquer saído do mundo exterior ou do seu universo individual; ou ainda, quando o artista passa por uma experiência de êxtase e de si sai uma obra que fica imortalizada na história.

Ver o corpo da obra e na obra, as contrações do rosto talhadas na madeira, na pintura, para além do gênero, da raça, da cor, a alegria estampada atestando uma jubilação sem alarde, é como assistir às núpcias entre os elementos e o corpo dançarino da bailarina, em um balé de fogo, pássaro prateado, ser humano alado, onde o limitado torna-se a própria falta de limite, onde o humano confunde-se com o divino, assim é o artista.

Algo é precioso para ele: saber capturar uma imagem e representá-la. Montar a imagem como se monta um castelo. Na obra o estilo é soberano e particular. O estilo é a linha-artista do poeta autor que inscreve seu poema em uma imagem, seu charme, seu feitiço, que não exclui o experimento radical, quando o encontro com a obra futura é entregue às turbulências do seu ofício, ao mesmo tempo em que ondas de cores e de contrastes se juntam numa só harmonia, como uma canção. O artista é um mestre nas forças positivas da invenção. O charme da sua obra o leva a se confundir com a sua própria criação.

Uma obra é uma cartografia do belo, do movimento, de tudo aquilo que ultrapassa o nosso entendimento e o nosso modo de compreensão, a obra invade-nos e ultrapassa-nos, sua condição limite é o ilimitado. A arte é como uma carta de amor ou um ritual público de amor ao belo, ao sublime, mesmo quando não há platéia.

Ser artista é dançar ao vento, é perceber em cada acontecimento banal algo de grandioso, é se deixar imergir pelo gozo da criação é viver numa solidão habitada pelas imagens.

Criar é ter o sentido do equilíbrio/desequilíbrio de tudo que está a sua volta, é transpor para o mundo exterior o que só ao artista pertence em sua intimidade, em sua individualidade. O mundo do artista é um mundo cheio de becos escuros e labirintos onde o único risco é o de se confundir com a sua criação.

Para além do mercantilismo de alguns e dos efeitos perversos de uma massificação, classificação e qualificação da obra, o artista, fábrica de sonhos, é sobremaneira um indivíduo fabuloso. Entre o homem e a obra, uma produção, uma criação do inútil, perfeita definição da arte. O artista, deus que brinca com os deuses da beleza, é alguém que diz um vigoroso sim à vida.

O mundo é o livro do artista onde em cada acontecimento ele lê um capítulo, seus instrumentos de trabalho inscrevem esses acontecimentos e a sua obra se torna um poema.

Louco, Celestino, Tamba...