segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CIÊNCIA NÃO É ARTE

 Por Jefferson Willes*


"Nuvens não são esferas, montanhas não são cones, continentes não são círculos." Benoit Mandelbrot

Embora exista um interesse bastante íngreme na interface entre essas duas atividades humanas (Ciência x Arte), há um grande equívoco em atribuir ciência a um valor artístico. Segundo Fayga (autora citada pelo próprio especialista em arte Carlos Gama), a representação da natureza não pode ser considerada arte, pois carece de experiência humana, de sentimentos, de expressividade – para usar a linguagem artística. E é justamente nessa expressividade que está o verdadeiro valor de uma obra de arte.
Podemos usar como exemplo a Teoria dos Fractais ( assim como a Teoria do Caos são ramificações da área dos Sistemas Complexos). Para Mandelbrot (The Fractal Geometry of Nature 1982), um fractal é um conjunto espacial que manifesta uma relação escalar, entre o número de seus elementos constituintes e a sua classe de mensuração: tamanho, densidade e intensidade. As principais propriedades que caracterizam os fractais são a auto-semelhança, sua dimensão fracionada e a complexidade infinita. Essas formas podem ser verificadas na natureza como na forma de árvores, nas estruturas pulmonares, flocos de neve e outros. Todavia essas belíssimas formas não são consideradas obras de arte, como afirma Fayga:
Ainda que suas formas nos proporcionem um grande prazer estético, tais formas se apresentam em termos neutros, sem conteúdos afetivos. Pois vejamos: seria possível caracterizar as imagens de fractais como sendo alegres, melancólicas, tristes, irônicas, líricas, dramáticas, trágicas? Penso que qualquer um desses atributos estaria fora de propósito. As formas simplesmente não encerram este tipo de significado. Elas carecem de expressividade. (Ostrower, 1999, p. 197).
Fractais são formas completamente desconexas de conteúdo expressivo. Enquanto, na arte, segundo Fayga, as formas devem ser impregnadas de sensualidade, na geometria as formas prescindem de qualquer aspecto sensual ou afetivo. Portanto, embora muitos artistas utilizem formas geometrizadas em suas composições, estas só podem ser consideradas obras de arte se estiverem imbuídas de carga emocional, de experiência humana. 
*Licenciado em Física pela UEFS;
Mestrando em Sistemas Complexos SENAI – CIMATEC. 

12 comentários:

  1. “Pelo que atrás fica dito, é evidente que não compete ao poeta narrar exatamente o que aconteceu; mas sim o que poderia ter acontecido, o possível, segundo a verossimilhança ou a necessidade”. – A Arte Poética Capítulo IX.
    Ciência e arte diferenciam-se por seus objetivos, métodos, natureza e princípios. No entanto, já no século XVIII existia uma aproximação entre arte e ciência, os artistas escreviam peças literárias, como Shakespeare, com temas que tocavam em questões científicas. No campo do pensamento filosófico, vários autores (Descartes, Hume) escreviam seus textos em forma de “diálogos” (seguindo a tradição platônica e socrática de diálogo – dialética e retórica). O Fédon de Platão, por exemplo, é um texto que trata de temas científicos (a própria noção de ciência) - tema caro aos gregos pré-socráticos. A arte tinha uma função cognitiva que ultrapassava o seu aspecto de entretenimento, havia uma busca de conhecimento por meio da arte. Essa ruptura acontece a partir do século XIX entre aqueles que separam a sensibilidade e a emoção e outros que preferem a casa fria da razão e da lógica. Apesar disso, autores como Nietzsche e Heidegger escreviam de forma poética e, no caso de Nietzsche, ele conservou a forma aforismática (pequenas máximas que encerram teses grandiosas de escrita herdada dos autores da literatura francesa). Aqui no Brasil Machado de Assis escrevia nesse mesmo gênero, confira o clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas.
    Foucault percebeu nitidamente isso ao dizer que um dos aspecto que marca o nascimento da modernidade foi essa ruptura, ou seja, em quanto o século XVIII era espelhado pelas “semelhanças” – teoria de aproximação e forma (Deus como arquiteto do universo) – o século XIX privilegiou a razão (o nascimento das ciências humanas fundamentadas no empirismo de Kant). “Que é, pois, essa linguagem que nada diz, jamais se cala e se chama ‘literatura’”? (Cf. As Palavras e as Coisas Capítulo 8).
    Mesmo assim, não se pode confundir arte com ciência e nem ciência com arte, não se pode, por exemplo, buscar respostas na arte para questões da ciência, mas é possível encontrar resposta na ciência para a experiência estética, explico: a sensação pode ser estudada, como já é, pela neurociência, mas a arte não pode estudar a neurociência, o campo de competência da arte é outro. A ciência é objetiva e pretende dar respostas a questões específica, a arte não. Para que uma experiência mental se efetive é preciso haver um correlato neurofisiológico que lhe corresponde. Um estado mental (dor, alegria, experiência de beleza etc).

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  2. hahhhhhhhhhhhhhhh o filósofo deu as cara!!

    Agora sim!!

    Aguardem os próximos episódios de : Gestalt X Física

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  3. Os saberes se comunicam, se diferem e se destacam pelas suas diferenças e particularidades, por isso, a ciência não é arte e a arte não é uma ciência. Como falei anteriormente, já no final do século XVIII a separação é radical, começou aí uma ruptura, uma cisão. Não é possível diluir aqui todos os aspectos desse atraente tema ou os aspectos mais gerais dessa ruptura, então, farei um recorte bem breve (por isso precário e raso) dos pontos – apenas um ou dois – que considero principais e que estão ao meu alcance.

    No momento em que a estrutura atual do romance foi possível (século XIX com a “emergência” da literatura) houve um rompimento entre a linguagem científica e a linguagem literária. A forma de escrita (ficção) usada por grandes pensadores, a exemplo de Platão, vai paulatinamente dando lugar a um outro modo de escrita, a saber, uma escrita mais sistemática, preocupada com a lógica, com a linguagem formal (Sócrates). A linguagem alegórica tem, nesse cenário, cada vez menos espaço (mas autores como Nietzsche, Heidegger e Walter Benjamin insistiram em “pensar por imagens”, por alegoria). Veja: o próprio Mito da Caverna, descrito no livro 8 de A República, é uma imagem, uma alegoria. No Renascimento houve uma tentativa de retorno ou união entre essas duas linguagens, mas o que se evidenciou foi a acentuada diferença entre uma e outra.

    Observe um fato curioso: o nosso modo de escrita acadêmico. Temos que obedecer a regras lógicas e formais na composição de um texto: imparcialidade (deve-se escrever na 3ª pessoa), evitar o uso de adjetivos etc. Um texto acadêmico não pode ter “afetividade”. Eu pergunto: isso é possível? É possível se envolver em um assunto e ser imparcial? É possível não mostrar afeto diante de um assunto do qual se tem uma pertença íntima? Qual é o limite entre a razão e a emoção? Não quero com isso dizer que um texto tem que fazer chorar ou ser demasiado açucarado. Quero enfatizar que acredito na diferença entre ciência e arte, mas diviso na separação burra entre uma e outra por acreditar que, mesmo considerando as diferenças, elas podem se comunicar, viver juntas como Tristão e Isolda.

    A ciência busca o mundo como ele é, e o que dizer da arte? A ciência pergunta como? Por que? Como provar? Qual o melhor caminho para se entender tal fenômeno? E a arte, o que ela pergunta?

    A arte tem aspectos políticos (porque ela contesta a política e a moral), ela se relaciona com a ciência (porque aborda temas caros a ciência) e tem aspectos filosóficos (porque ela trata dos problemas da existência do eu humano), mas não se pode deduzir ou confundir a ciência com a arte ou a arte como uma ciência, isso seria uma evidencia falsa e para a qual a palavra ingênua é generosa demais.

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  4. "A arte não é ciência" É senhor Celso,lê isso e muito mais postar esse comentário para mim é um afronto para com a Arte ( E a partir de hoje só a escrevo com letra maiúscula!)....
    Mesmo assim aguarde a minha explanação teórica acerca de seu comentário de:8 de novembro de 2010 17:51

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  5. Considerar a arte como ciência seria trair a construção de um campo do conhecimento consolidado durante séculos. A ciência se diferencia, é muito, das outras formas de conhecimento.

    É preciso ter lucidez e cautela para se fazer uma afirmação (a arte é ciência!) dessa natureza, que coloca na mesma panela arte e ciência. As várias maneiras de se ver e se entender o mundo devem ser colocadas cada uma em seu devido lugar.

    Se alguém me diz que a arte é ciência, eu posso afirmar no mesmo tom que a religião também é ciência. Se isso for verdade (o que eu não acredito) o mito bíblico da criação do mundo, a seleção natural e a evolução da espécie são as mesmas coisas.

    Recomendo o livro; "O que é Ciência Afinal?" de F. CHALMERS

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  6. O texto (Ciência não é arte) e os comentários de Celso mostram com beleza e maestria a sublime dicotomia entre arte e ciência!

    Obrigado pelo comentário amigo Celso.

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  7. Ciência não é arte e arte não é ciência.
    Eu já sabia!!!!!!!!!

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  8. Foucault, Heidegger, Nietzsche, Platão, Machado de Assis, Walter Benjamim, Sócrates, Aristóteles, Shakespeare, Descartes, Hume e Kant, é..., com essas referências até uma mentira vira verdade!!!

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  9. A partir do momento que você faz pesquisa dentro das Artes , investiga(observa) experimenta, isso é senso comum??
    Caro filósofo, o senhor foi infelizzzzzzzz em fazer um colocação a tal maneira em citar:"Considerar a arte como ciência seria trair a construção de um campo do conhecimento consolidado durante séculos. A ciência se diferencia, é muito, das outras formas de conhecimento."
    Por favorrrr renegarei agora o meu mínimo conhecimento em artes (que não foi curso a distância) em acreditar em tal preconizaçãoe preconceito. A Arte é sim uma forma de conhecimento.O seu discurso mostra a tamanha e realmente prematuridade pra tal assunto sobre Artes. Se o senhor quisesse me convencerpoderia abordar que a Arte está inserida no conhecimento cientifico ou empírico ainda até diluiria a sua opinião um pouco amarga mas entenderia.
    E com relação a seu exempplo irônico :"Se alguém me diz que a arte é ciência, eu posso afirmar no mesmo tom que a religião também é ciência "
    Religião não foi experimentada e não passa por situações metodológicas cientificas ou empiricas.
    Seleção natural não é ciência?? Darwinismo é uma ciência e ajudou muito nos estudos de Gregor Mendel. É...!!!as navegações de Darwin foi com sentido de curtir o pagodão no Litoral tomando uma gelada na certa ou observar e fazer as suas análises de acordo com seus estudos.
    è professor, precisa rever alguns textos sobre a origem das especies e a aprtir dai vc talvez discernirá com mais cautela a ideia do que seja ciência ou não?

    Obs.:...é acho que Louco Filho aprendeu Artes através do senso comum KKKK!!!!!

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  10. Concordo com você amigo: a arte é sim uma forma de conhecimento, mas isso não significa que ela seja uma ciência no sentido mais rigoroso e hermenêutico do termo.
    A minha pré-maturidade no assunto destacado no seu blog se contextualiza no fato de eu não estar estudando assuntos relacionados a arte, essa é uma limitação que eu confesso sem timidez alguma. Eu me contento apenas em experimentar a produção artística (isso cobre a minha ignorância) especificamente a música, a literatura, a pintura, o cinema e o teatro. Com isso quero dizer que não sou um teórico, como você sabe, desse importante campo do conhecimento. Agora faço uma observação: no que diz respeito a qualquer assunto relacionado às ciências, isso sim me interessa, e muito! Sou fascinado por todo e “qualquer” tema relacionado a ciências. Conhecimento é como saúde: quanto mais você tiver, melhor!
    A religião foi experimentada sim e continua sendo, poderia aqui lhe dar inúmeros exemplos, mas não é oportuno agora, é preciso tempo, por isso, em vista de maiores considerações, recomendo a você o livro “Deus, um Delírio”, A Igreja Católica e A Origem do Cristianismo, entre outros, tenho todos.
    Seleção natural não é ciência se a arte for ciência.
    Por fim, confesso, com uma amarga frustração, que não posso ler a Origem das Espécies porque tenho que concluir outros estudos mais importante para mim nesse momento, preciso fazer umas leituras que estão pendentes, tenho que rever minha dissertação e preciso ler muito ainda, coisa que tenho feito pouco ultimamente (mas você tem me instigado a ler), depois, se sobrar um tempinho, eu vou a Darwin. Amém!!!

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  11. Conhecer é a base do criticar
    Um belo dia, durante uma aula de Física Clássica (Mecânica Newtoniana), ministrada por mim, um aluno se exaltou questionando que seria impossível conceber as leis de Kepler, segundo ele, Kepler não passava de um louco sem fundamento. Como pode, completou o aluno, os planetas girarem em órbitas definidas em torno de um sol e a razão entre o cubo do seu raio de órbita e o quadrado do seu período se manter constante? Como acreditar que os planetas percorrem áreas iguais m tempos iguais? E como se não bastasse, argumentou: tudo isso não passa de uma mentira!!!
    Ao respondê-lo, informei-o que ninguém é obrigado a acreditar em nenhuma teoria, mesmo que ela seja científica (como as leis de Kepler) e todos têm direito de concordar ou não com ela, no entanto quando você for discordar de qualquer teoria, disse ao aluno, mostre em que conhecimento está baseado sua inquietação: em que tese? Em que escolas literárias? Em que teoria do conhecimento? Quais suas os referenciais teóricos? Caso contrário, sua hesitação está fadada ao fracasso, ou seja, completei, O CONHECIMENTO PRECEDE A CRÍTICA.

    *Licenciado em Física pela UEFS;
    Mestrando em Sistemas Complexos SENAI – CIMATEC

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  12. Quero ver agora como o matemático gestaltico vai reagir.

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