segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Por uma reflexão sobre o nascimento da filosofia da arte

Qual é o sentido da filosofia da arte? Poetas, escritores e pensadores tentaram dar cabo a essa questão que, para o bem dos estetas, permanece sem resposta.


Ao abrirmos um manual de filosofia, muitas vezes, nos deparamos com o termo filosofia da arte e nem sempre sabemos exatamente a que se refere essa linha de pensamento que, de uma forma ou de outra, pertence à filosofia. Então, pergunta-se: o que significa, afinal, filosofia da arte? Como ela surgiu? E, mais importante, como é possível pensar a arte filosoficamente?

O termo "filosofia da arte" é muitas vezes confundido como termo "estética". Muito embora alguns autores insistam em separar uma coisa da outra, no fim, um termo e outro não deixam de designar uma e mesma coisa: a relação do pensamento filosófico com a criação artística. Se formos investigar na história da filosofia como surgem ambos os termos, veremos que o termo "estética", por exemplo, foi criado por Alexander Baumgarten (1714-1762) apenas no século XVII, seguindo as exigências iluministas daquele século de definir e delimitar todas as áreas do saber humano. Pela primeira vez na história da filosofia, o pensamento filosófico sobre a arte adquire, se não um terreno sólido, ao menos uma denominação mais específica em meio às demais disciplinas que desde sempre fizeram parte dos principais troncos da filosofia: a ontologia, a moral e a política. Segundo Baumgarten, se essa experiência provocada pela obra de arte e pela criação artística em geral deveria conquistar para si um lugar ao sol em meio às demais disciplinas filosóficas, esse lugar deveria ser aquele da sensação.

De fato, como a obra de arte exige sempre um contato mínimo com um dos sentidos (por exemplo, a música com o ouvido, a pintura com a visão), o ramo da filosofia dedicado a essa experiência deveria invariavelmente chamar-se estética, na esteira do termo grego aesthésis, que designa a sensação sensível. Em completa oposição à lógica, conhecida como a ciência das regras do pensamento, a estética, ao contrário, deveria ser aquela linha de pensamento dentro da filosofia cujo objetivo era determinar as regras, não do pensamento, mas da sensação sensível, a partir das quais se poderia definir uma experiência estética. E muito embora seja possível dizer que desde sempre os filósofos se ocuparam com o problema da criação artística - por exemplo, Platão no livro X da "República" e Aristóteles na sua "Arte Poética" - apenas no século XVII com Baumgarten essa preocupação passou a ser sistematizada, vindo a receber essa nomeação.



13 comentários:

  1. Minha precária leitura de graduação no que diz respeito a esse assunto me põe duas questões:

    1. A filosofia da arte é uma maneira diferente de se compreender o ramo da estética, o que se chama de filofia da arte é a própria "teoria estética". Qualquer um pode adaptar o termo filosofia a qualquer coisa. Se a filosofia, por exemplo, for compreendida apenas como um discurso sobre tudo, eu posso dizer "existe uma filosofia do feijão", ou seja, uma forma racional, lógica (dada por uma receita) e única de se fazer um feijão ou uma feijoada. Mas qual a receita mais verdadeira, a correta, a da minha mãe ou a de uma senhora lá do Maranhão? Bom. fica a critério da imaginação do teórico ou do cozinheiro. Se se quiser, pode existir filosifia de tudo, eu, de maneira particular, não gosto do termo "filosofia da arte", prefiro estética ou teoria estética. Acho até mais elegante e menos chavão.

    2. Uma das grandes questões da estética é determinar "as regras da experiência sensível (o termo sensação sensível - como está no texto - é redundante). Veja: como determinar essas regras? É preciso mesmo regras para determinar o que é uma experiência sensível? Quem determinaria essas regras? É preciso o uso do intelecto na avaliação ou na experiência estética? Um analfabeto diante de uma pintura de Henri Matisse e um intelectual vendo a mesma pintura e a compreendendo, pode-se dizer que o segundo teve uma experiência estética (mais objetiva)e o que dizer do segundo? A sensibilidade no campo da estética tem mais valor do que a análise racional.

    Levando em conta o fato de eu não ser um estudioso na área, tudo que eu disse pode ser mera opinião que não deva ser levada em conta.

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  2. Direcionado especialmente ao Filósofo Celso:

    O sentido do texto onde você acha redundante na colocação do autor - "sensação sensível" na minha observância Gestáltica, o autor se refere a sentir, ao tocar, por mais que seja subjetivo,o que é sensível. Mas óbvio que parte da visão de leitura da cada um.
    Devido a isso, você leva-me a colocar mais alguns textos em breve, que correlacione estética e gestalt com intuito dos leitores clássicos ,como você do blog, a compreender o incompreendido.
    Ressalto mais uma vez obrigado pela sua participação meu caro amigo.

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  3. Muito profundo, quero ler besteira.

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  4. O físico vai dar as caras?

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  5. Continuo com minha visão que intelectual só serve para complicar e distância à compreensão das práticas cotidianas. Filosofia da arte ou teoria da estética? Psicodelico! Devaneio, loucura pura, enfim, coisa de intelectual.
    O poreta é poder perceber que a arte não se corrompe. É até possível que o artista venha a se corromper, mas a arte jamais. E reforço minhas reflexões com palavras de Ariano Suassuna(autor do Auto da Compadecida):"É possível que o artista se corrompa, a arte, não. O problema da arte com a ética e a moral é diferente do problema da vida. A arte, por natureza, não tem nada a ver com ética e moral."
    Essa relação existe apenas para determinar o público de determinada obra de arte. Talvez estabeleceremos restricões de público para um artista pevertido, por exemplo; faixa de idade para apreciação de determinadas obras.
    Um artista pode se corromper como pessoa humana, mas a arte permanece pura.
    A arte, incorrupitível de Louco, explica uma cidade, um país, uma nação. Ele consolida a expressão de um povo.
    Uma pena que a "sensação sensível numa visão Gestáltica" não tenha sensibilidade para perceber questões fundamentais.

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  6. Aguardamos em grande expectativa o físico!!!!
    Vai dá as caras??????????
    Se fundamente para o especialista em arte não te torarrr em banda!!!

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  7. Caro Léo (não sei se é mesmo você - risos). Não existe conhecimento sem conceito, conhecer é conceituar! Tanto a linguagem Cotidiana (ou quotidiana), "do povo", quando a linguagem acadêmica (intelectual) são conceitos que utilizadmos para nos comunicarmos e sobrevivermos, isso move o conhecimento e a vida, portanto, é preciso dar "nomes aos bois", o intelectual é, por natureza, conceito.

    "É possível que o artista se corrompa, a arte, não. O problema da arte com a ética e a moral é diferente do problema da vida. A arte, por natureza, não tem nada a ver com ética e moral."

    Essa frase de Suassuna é emblemática, explico: eu não entendo em que sentido a arte não se corrompe. A arte não é uma criação indepentende do artista. Quantas obras (músicas, pinturas etc) foram feitas, compradas a pedido de reis, padres e bispos na Idade Média, período em que grande parte dos artistas vivam sob o julgo da religião corrompendo, às vezes, seus próprios ideais? A arte não é uma coisa independe do seu contexto político, econômico, relegiosos e tão pouco do seu criador. Se o artista estiver corrompido, o que dizer de sua obra?

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  8. ADENTRANDO A TAL DISCUSSÃO DE FILÓSOFO CELSO E LEONARDO(SE É QUE É ELE MESMO OU ALGUM ENRUSTIDO!!kkk)

    A arte é espôntânea ao momento que seu criador dá um "olhar",um modo de vê aos seus observadores.A visão de Leonardo Araújo (se é que é ele ou outro algum enrustido!!!), é que arte não tem limites a partir do seu autor,digo: artista.
    O artista a todo momento ao criar é individualista, vive seu mundo se fragmenta, se desiquilibra na busca de uma arte final( arte final??!!!, e existe essa tal arte final?!!!).
    Em trocadilhos, segundo Faygga Ostrower, o artista passa por um momento de "CAOS",desordenação para obter a sua obra.
    A ARTE É SUBJETIVA!!!

    OBS.: ESSA IDÉIA DO CAOS, ACABO QUE PROPOSITALMENTE ALFINETANDO ALGUÉM A SE LANÇAR SOBRE TAL ASSUNTO CATEDRÁTICO E CIENTIFICO INSERIDO NAS ARTES. ESPERO QUE O MESMO SE PRONUNCIE SOBRE TAL SITUAÇÃO.

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  9. Caro professor Gama, eu na minha humilde incapacitação de conhecer a teoria da arte, pouco tenho a contribuir a esse belo e vasto ramo científico. No entanto, como físico, onde meus estudos limitam-se a compreensão dos fenômenos naturais e estudante das evoluções dos sistemas dinâmico (sistemas complexos) sinto-me a vontade para discutir algumas questões importantes para tal comentário.
    A despeito do caráter perspicaz da Teoria do Caos, existe muita confusão, ou melhor, uma ligação quase que direta entre Caos e desordem. Todavia, precisamos ter cuidado ao apresentar tais conceitos. A Teoria do Caos não está intimamente ligada a uma ordem ou desordem e sim aos resultados de tais evoluções, ou seja, o que caracteriza o Caos é a probabilidade determinística de prevê (quando possível) pra onde e/ou em que circunstância evolui um sistema dinâmico, onde estes são resultados da interação individual de cada unidade. Isso sugere que a idéia de Faygga Ostrower, onde o artista passa por um momento de "CAOS", desordenação para obter a sua obra, não condiz com as hipóteses da Teoria do Caos e sim um processo de transição entre ordem e desordem, que, a meu ver, não se refere à Teoria do Caos. Caso fosse, o termo estaria sumariamente mal empregado.
    *Licenciado em Física pela UEFS;
    Mestrando em Sistemas Complexos SENAI – CIMATEC

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  10. Meu caro mestrando Jeferson!
    acho sua colocação de: 5 de novembro de 2010 04:58,muito pertinente e realmente me fez vê o quanto o meu comentário ao colocar Caos entre aspascte mexeu e tanto! Mas na realidade o comentário realmente foi direcionado a quem entende realmente do assunto tal como você e a escritora do livro Acasos e Criação Artística, Fayga ostrower,onde ela demonstra que a teoria do caos é um assunto interdisciplinar que não cabe apenas na área da Física e nem da Matemática.ela usa de exemplificações com autenticidade e mostrar as possibilidades do artista deeiquilibrar e equilibrar no seu fazer artístico.No entanto, a autora não diz assim tão quão objetivo o que o leitor quer ler claramente.a mesma deixa que o leitor abstraia a essa informação. Mas a Arte é assim caro mestre, subjetiva.
    Volto a ressaltar, que se possível busque esse compêndio talvez reformulará os seus conceitos "lineares".

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  11. Por, Jefferson Willes*

    “O que sabemos é uma gota enquanto um imenso oceano é ignorado”.
    Isaac Newton
    Caro Gama, a despeito dos meus conhecimentos, devem sim serem aprimorados, e quem sabe, reformulados, pois o conhecimento não é um processo estático, assim como a ciência não é filha da sintonia. E se eles são “lineares”, como você mesmo afirma, fico feliz com isso, embora não concorde, pois acredito com todas as forças que o que conheço limita-se, a um “ponto”. Gostaria de conhecer, se é que existe, aqueles que conhecem mais que isso.

    *Licenciado em Física pela UEFS;
    Mestrando em Sistemas Complexos SENAI – CIMATEC.

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  12. CIÊNCIA NÃO É ARTE
    "Nuvens não são esferas, montanhas não são cones, continentes não são círculos." Benoit Mandelbrot

    Embora exista um interesse bastante íngreme na interface entre essas duas atividades humanas (Ciência x Arte), há um grande equívoco em atribuir ciência a um valor artístico. Segundo Fayga (autora citada pelo próprio especialista em arte Carlos Gama), a representação da natureza não pode ser considerada arte, pois carece de experiência humana, de sentimentos, de expressividade – para usar a linguagem artística. E é justamente nessa expressividade que está o verdadeiro valor de uma obra de arte.
    Podemos usar como exemplo a Teoria dos Fractais ( assim como a Teoria do Caos são ramificações da área dos Sistemas Complexos). Para Mandelbrot (The Fractal Geometry of Nature 1982), um fractal é um conjunto espacial que manifesta uma relação escalar, entre o número de seus elementos constituintes e a sua classe de mensuração: tamanho, densidade e intensidade. As principais propriedades que caracterizam os fractais são a auto-semelhança, sua dimensão fracionada e a complexidade infinita. Essas formas podem ser verificadas na natureza como na forma de árvores, nas estruturas pulmonares, flocos de neve e outros. Todavia essas belíssimas formas não são consideradas obras de arte, como afirma Fayga:
    Ainda que suas formas nos proporcionem um grande prazer estético, tais formas se apresentam em termos neutros, sem conteúdos afetivos. Pois vejamos: seria possível caracterizar as imagens de fractais como sendo alegres, melancólicas, tristes, irônicas, líricas, dramáticas, trágicas? Penso que qualquer um desses atributos estaria fora de propósito. As formas simplesmente não encerram este tipo de significado. Elas carecem de expressividade. (Ostrower, 1999, p. 197).
    Fractais são formas completamente desconexas de conteúdo expressivo. Enquanto, na arte, segundo Fayga, as formas devem ser impregnadas de sensualidade, na geometria as formas prescindem de qualquer aspecto sensual ou afetivo. Portanto, embora muitos artistas utilizem formas geometrizadas em suas composições, estas só podem ser consideradas obras de arte se estiverem imbuídas de carga emocional, de experiência humana.
    *Licenciado em Física pela UEFS;
    Mestrando em Sistemas Complexos SENAI – CIMATEC.


    Link para observação das figuras fractais:
    http://www.google.com.br/images?hl=pt-BR&q=fractais&um=1&ie=UTF-8&source=univ&ei=q3XVTOnHOsSt8AaG2IjyBg&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=1&ved=0CCYQsAQwAA

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